ANÁLISE - FILMES

Resenha Crítica do filme “A voz do Coração”


(“Les Choristes” - França- 2004)


“A voz do coração”, filme de Christophe Barratier, reporta à França da década de 40 – mais precisamente em 1949, três anos após o término da 2ª Guerra Mundial-, fase em que muitas mulheres, no período do conflito bélico, sofreram abusos sexuais, violências físicas, psíquicas e muitos de seus maridos e filhos foram mortos nos combates. Resultado disso: muitas crianças nasceram fruto dos muitos estupros; outras foram abandonadas ou tiveram seus pais mortos; outras entregues ao internato, pois, diante da grande quantidade de homens mortos devido à guerra e a economia está em colapso, as mulheres tiveram que largar suas vidinhas domésticas e abrir mão da educação familiar de seus filhos; passaram a arregaçar as mangas nas fábricas caso não quisessem morrer de fome. Não faltou, nessa época, propagandas elegantes e cartazes convidativos incentivando o quão maravilhoso e honroso para o Estado era o trabalho feminino.

Diante disso, de todo esse contexto social, o filme narra a história dessas crianças órfãs, delinqüentes ou sem aparente futuro que vivem em uma instituição de ensino no qual, pode ser observado, não há uma preocupação com o ensinar, naquilo que envolve uma educação que capacite os alunos a refletirem os diversos assuntos de forma crítica, mudança de comportamento, assimilação de valores éticos e morais para se tornarem cidadãos de fato.

No colégio - se é que pode chamar aquela instituição de colégio, pois concernente a seus métodos repressores assemelha-se tranquilamente a um reformatório - observa-se, logo na entrada, os seguintes dizeres: “No fundo do poço”. Ou seja, teria realmente essa instituição um olhar social na intenção de compartilhar e trabalhar a aprendizagem e sua avaliação, respeitando os seres humanos que ali se encontram? É lógico que não! O que se observa em “A voz do coração”, antes da chegada do professor de música, Clémente Mathieu, é justamente o contrário, o que se verifica é uma educação repressora.

Se pensarmos numa suposta didática daquela instituição - e quando digo suposta é por perceber que não há nada que se assemelhe ao conteúdo e a teoria da qual a didática carrega em si , como, por exemplo, planejamento e estratégias adotadas pela equipe docente na intenção de estabelecer de forma significativa o ensino e a aprendizagem- verifica-se, portanto, que as experiências dos alunos naquele local é totalmente inversa, basta, para tanto, observar o lema pelo qual o diretor Rachin se baseia: “ação e reação” como método de correção. Tudo isso para que os internos possam aprender a se comportarem, caso contrário, seriam confinados em uma solitária. Método esse que tende a adestrar os alunos no objetivo de adquirir deles bom comportamento advindo do medo, da repressão e, tendo como resposta: crianças agressivas, com baixa estima por não encontrar naquele ambiente nenhuma afetividade ou algo que o incentive e estimule para o processo de socialização.

A chegada do professor de música, por sua vez, e através dele, o ensino adquire novo enfoque: tem-se agora um profissional que conduzirá os alunos a perceberem uma nova realidade bem diferente do que a instituição impunha, avaliará suas habilidades fazendo com que, dentro de um aspecto humanístico e de afeto ante aos alunos, promova a auto-estima em cada um, se sentindo úteis e, não, como sendo parte do mobiliário de uma sala de aula.

É muito comum hoje em dia, e basta observar dentro da sala de aula, certos alunos quietinhos no canto, não falam, não participam de certas atividades e muitos dos professores nem se quer procuram saber o porquê daquilo. Não se interessam, configurando numa espécie de abandono de forma indireta por meio desse profissinonal. No filme, tal aspecto também é abordado de forma crítica em relação ao aluno que , não possuindo uma voz adequada para o canto, mesmo assim, não foi posto de lado, mas aproveitado uma outra habilidade sua para que este não se sentisse abandonado, excluído das atividade. Apesar da situação e cena se mostrarem engraçadas, esse aluno, que não possuía habilidade alguma para o canto, acaba ajudando o professor servindo de “estante”, digamos assim, para segurar a partitura. De uma forma ou de outra, ele também estava atuando junto à turma.

Ser professor não é somente transmitir o conteúdo da disciplina, mas deve estar atento aos seus alunos, as suas pontencialidades e dificuldades, orientando-os a construírem o conhecimento necessário para uma vida social mais digna. É capacitar, ajudar a se tornarem sujeitos pensantes e não repetidores de uma gama de informações.

Diante disso, é importante que o profissional de educação perceba e desenvolva as habilidades que cada um de seus alunos possuem; isto deve ser trabalhado e desenvolvido no discente para que este não veja a escola como um lugar enfadonho e sem perspectiva.

O longa de Christophe Barratier, como foi analisado aqui, aborda a educação em seus vários aspectos, e, dentro deles, cito dois por serem expressivos: as atitudes autoritárias por parte do diretor da instituição que se estabelece na incoerência dos tratos com os alunos, falta de respeito ante ao ser humano e imposição pessoal para prevalecer o que ele acha que é certo; e o segundo aspecto envolve as atitudes humanísticas cujos elementos principais deve inserir afetividade, respeito e dedicação, contribuindo de forma significativa para melhorar a auto estima do aluno e, com isso, estimular a confiança em ultrapassar suas dificuldades de aprendizagem e superação de obstáculos que cada idade exige.

Portanto, eis um excelente filme que demonstra que, acima de tudo, o amor, a bondade, o respeito e, principalmente, a sensibilidade e a compreensão devem fazer parte de qualquer currículo e método de ensino no caminhar do profissional de educação.

Fonte: Poesia em Si. In. Blog Educar sem Violência. Cida Alves. 2012.
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Por Dia Nascer Feliz



Ficha Técnica
Título Original: Por Dia Nascer Feliz
Direção, roteiro e edição: João Jardim
Produção: Flávio R. Tambellini, João Jardim
Fotografia: Gustavo Habda
Trilha Sonora: Dado Villa-Lobos
Duração: 88 min.
Ano: 2006 / 2007
País: Brasil
Gênero: Documentário
Cor: Colorido

Análise crítica

                      Jorge Silva Sousa* 

                                                      Núbia Graciela Candida Vasconcelos**

O filme Pro Dia Nascer Feliz é um documentário do diretor João Jardim, ele faz um relato de observação da vida dos adolescentes no Brasil em seis escolas diferentes, sendo as mesmas localizadas em Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro. Foram entrevistados alunos, professores e diretores em sua maioria dentro do ambiente escolar. O documentário mostra duas realidades diferentes, a pública e a particular. E dentro dessas realidades eles filmaram salas de aula, corredores, pátios, banheiros, uma reunião de conselho de classe e ouviram relatos da intimidade de alguns alunos.
Então o objetivo do cineasta é promover uma observação crítica da realidade que permeia as escolas nos grandes centros urbanos do Nordeste e do Sudeste. Mostrando diferentes quadros que aparecem entre as instituições observadas, diante das observações percebeu-se que o problema educacional é de grande proporção e que existe também a falta de administração pública.
Diante da falta de administração pública os educadores encontram dificuldades tanto no âmbito estrutural quanto na falta de apoio psicológico. Eles se sentem a mercê do  Estado em relação a falta de materiais pedagógicos, acompanhamento e estrutura física das escolas.
Na realidade da Escola Estadual Cel. Souza Neto na cidade Manari – Pernambuco revela o que era de se esperar da região, uma qualidade de educação péssima, sem recursos didáticos e até mesmo de necessidades básicas. Em um depoimento uma menina cita que não havia descarga no vaso, nem papel higiênico. Antes, bem no início do documentário, já escutávamos uma conversa de fundo de um funcionário da escola que dizia que do pouco de dinheiro que a escola recebia para manutenção, a maior parte ia embora, em pagamentos de contador, uma parte ia para a prefeitura, IPTU, impostos em cima de impostos e no final não sobrava nada.
E sem dúvida para mudar essa realidade é necessário mais investimento e fiscalização do poder público, no livro “Bicho de sete cabeças: para entender o financiamento da educação brasileira”, dos autores Ednir Madza e Marcos Bassi, aborda questões relevantes sobre o assunto. Os tributos são arrecadados pelo governo federal, estadual e municipal. São usados para colocar “em prática políticas publicas nas áreas da educação, saúde, trabalho e emprego e outras que, se alcançassem a todos e todas, diminuindo a distância entre “os que têm” e “os que não têm” (p. 26). Eles são distribuídos pelas três esferas de governo (federal, estadual e municipal). Sendo estabelecido pela Constituição Federal, que a “União deve usar 18% e os estados e municípios 25%, no mínimo da receita resultado dos impostos na manutenção e no desenvolvimento do ensino” (p. 54).
Então diante desse contexto percebemos que os recursos destinados para educação é pouco e mal administrado, não suprindo as suas necessidades básicas. E para que os recursos sejam bem distribuídos é necessário que aconteça uma relação entre o Estado e educação, afim de que ocorra uma real distribuição de responsabilidades para que a escola exerça sua autonomia. “Anísio buscava desenhar a relação possível entre Estado e educação, definindo o que entendia dever ser uma desejável distribuição de competências, tento em vista a autonomia da escola”. (MACHADO, 2004, p. 98).
E como conseqüência disso tudo, o desinteresse dos estudantes ao estudo dominava. Assim também resultando no desinteresse dos professores também, em dar aulas. Pois os professores não tinham mais responsabilidade com a escola e faltava diversas vezes, alegando que não faria nenhuma diferença, já que os alunos não tinham interesse na matéria. Outro motivo alegado pelos professores foi que se sentiam muito desvalorizados, por todos, principalmente pelos alunos, que não tinham respeito pela sua profissão e dedicação.
Então para que aconteça uma gesta democrática faz-se necessário a participação significativa e coletiva de todos, objetivando alcançar o ensino-aprendizagem. Na visão de Santos (2006, p. 04) “organização e gestão escolar, os atores sociais - diretores, professores, pais, alunos etc. – são considerados sujeitos ativos do processo, de forma que sua participação no processo deve acontecer de forma clara e com responsabilidade”.
As escolas analisadas de São Paulo são: Escola Estadual Parque Piratininga II, Levi Carneiro (periferia) ambas estaduais e o Colégio Santa Cruz (particular). As escolas estaduais traziam uma realidade diferente da citada anteriormente. Percebemos uma melhora na aparência dos estudantes e da própria estrutura da escola. Mas os problemas são praticamente o mesmo. Ainda existe uma pobreza da comunidade que limita o desenvolvimento social dos alunos. Em um depoimento uma aluna dizia ser difícil programar um cinema ou um teatro na escola, já que ninguém tinha dinheiro.
De fato os problemas com relação ao interesse dos alunos e disciplina dos professores eram os mesmos, havia uma excessiva falta de professores, que resultava diversas vezes em que os alunos eram liberados mais cedo, porque não teriam mais professores para dar aula. Apesar da dura realidade percebemos que alguns educadores ainda conseguem fazer a diferença. Segundo relato da professora Celsa “diz faltar devido ao cansaço e faz terapia, para ela não existe relação entre comunidade escolar-professor-aluno-sociedade”. No entanto a mesma é a criadora do “Franzine” (jornal escolar em forma de poesia e mosaico). Percebe-se que não é falta de interesse por parte do educador que busca a participação dos alunos ativamente, mas as vezes tem pouco retorno por parte dos alunos,  e não muito diferentes os mesmos se sentem desmotivados pela realidade que os cercam. Outro depoimento citado pela professora Suzana “diz não acreditar no papel da escola, que se sente desmotivada pelo comportamento dos alunos”.
Já na realidade do Colégio Santa Cruz é bem diferente, mas como já foi dito, não é motivo para ausência de problemas. Uma escola de classe social alta, onde os estudantes encontram muitos problemas, mas nenhum deles com certeza seria a falta de recursos, pelo menos, materiais. Em um depoimento ficamos surpresos com o motivo de um choro da estudante, que dizia estar sofrendo porque muitos a julgam de estudiosa demais, e com isso ela nem namora mais. Aí está a grande diferença entre pessoas de classes sociais diferentes onde o pobre tem que se preocupar com o que vai comer mais tarde, ou como vai embora para casa se a violência toma conta da cidade. Enquanto que um estudante de classe média alta fica se lamentando por preocupações supérfluas, como o que as pessoas dizem sobre ele, qual status deve ter quando formar, coisas do tipo.
Mesmo assim o problema do insucesso da educação não some nestes lugares privilegiados, as notas continuam sendo baixas porque os alunos se interessam por outras coisas, não por estudar. Vários alunos dessa escola justificam suas notas ruins, por problemas familiares, como carência, falta de um abraço dos pais, ou até mesmo o fato de seus pais não morarem juntos mais. Outros dizem ficar perturbados com o processo de estudo, por se sentirem pressionados ou cobrados excessivamente pelos pais, pela própria instituição e por si próprios, causando uma série de perturbações e prejudicando suas notas.
A escola Estadual Duque de Caxias – Rio de Janeiro enfrenta a mesma realidade das escolas estaduais citadas anteriormente, porém com um problema a mais, a boca de fumo fica a poucos quilômetros da mesma. Nessa escola foi presenciado um conselho escolar onde o assunto em questão era a o aluno Douglas, que estava de dependência em várias disciplinas, porém as educadoras se viam frente a uma situação difícil, se ele ficasse de repetência, correria o sério risco de evasão escolar, adentrando assim no mundo da criminalidade. No entanto o mesmo era inserido no processo cultural da escola como forma de interação com a mesma.
Percebemos que existe grandes desafios para implementação de uma gestão democrática, pois os gestores têm uma visão distorcida do que vem a ser participação coletiva. Segundo (HORA, 2002, p. 49), “a gestão democrática em educação é uma ação administrativa desenvolvida na perspectiva de construção coletiva exige a participação de toda a comunidade escolar nas decisões do processo educativo”, ou seja, na perspectiva de uma gestão democrática é necessário que a participação seja um direito e um dever de todos os integrantes da comunidade escolar.
Para que o processo educativo ocorra de forma significativa é necessário que os gestores administrem a instituição dentro do cumprimento das leis, sem perder o foco que é o ensino aprendizagem dos educandos. Sendo função básica do diretos as ações de organizar e administrar, tendo em vista as orientações superiores, cabe a ele também função de,

realizar uma liderança política, cultural e pedagógica, sem perder de vista a competência técnica para administrar a instituição que dirige, demonstrando que o diretor e a escola contam com possibilidades de, em cumprimento com a legislação que os rege, usar sua criatividade e colocar o processo administrativo a serviço do pedagógico e assim facilitar a elaboração de projetos educacionais que sejam resultados de uma construção coletiva dos componentes da escola (HORA, 2002, p. 53).

Outro aspecto importante no processo educacional da escola é o envolvimento dos educadores na construção do conhecimento de forma coletiva, juntamente com a participação da comunidade, proporcionando um melhor ensino-aprendizagem de forma a valorizar o conhecimento prévio dos educandos e favorecer na troca de experiências com intuito de torná-los críticos e observadores.

A convivência estreita entre os professores e as famílias, que pede o conhecimento das condições materiais e sociais dos alunos, acaba permitindo que o relacionamento se processe de forma mais humana, favorecendo ao professor uma compreensão maior das ações e reações dos alunos, o que o leva a uma modificação no tratamento pessoal (HORA, 2002, p. 122).

Então percebemos que o desenvolvimento democrático da escola se constrói no cotidiano escolar com a participação de todos os envolvidos, sempre analisando a realidade inserida, pois para que o processo de participação coletiva aconteça é necessário que tenham conhecimento e clareza dos conteúdos e do que realmente vem a ser participação coletiva.

A participação de professores, alunos, pais e funcionários na organização da escola, na escolha dos conteúdos a serem ensinados, nas formas de administração da mesma será tão mais efetivamente democrática, na medida em que os componentes dominem o significado social das suas especificidades numa perspectiva  de totalidade, isto é, se o significado social da prática de cada um é capaz de desenvolver a autonomia e a criatividade na reorganização da escola para melhor propiciar a sua finalidade: democratização da sociedade pela democratização do saber ( HORA, 2002, p. 135).

Então participar significa é estar inserido nos processos sociais de forma efetiva e coletiva, opinando e decidindo sobre planejamento e execução. Diante dos estudos/observações concluímos que o filme é bem esquematizado, pois mostra uma nítida diferença social, tanto financeira, quanto cultural das escolas e regiões apresentadas no filme. Mas ao desenrolar das tramas, percebemos também que os problemas estão presentes em todos os lugares, se diferem um pouco um do outro, devido às oportunidades que cada um tem, mas no final o problema de todos leva a um só destino. O insucesso escolar.
A análise do filme e em particular de cada escola, nos mostra que diferenças existem, mas a educação final do jovem brasileiro não se difere muito. Encontramos falhas na estrutura das escolas de todas as classes, onde as mesmas, muitas vezes não estão preparadas para lidar com as diversas situações em que a sociedade, o jovem pode trazer. Existe um comodismo no processo educativo e uma maquiação dos problemas encontrados, onde não se faz muito esforço para exterminá-los de vez, apenas procuram um jeito de amenizar a situação ou apenas ignoram os problemas.
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*Acadêmico do 4º Ano do Curso de Pedagogia, da Universidade Estadual de Goiás, unidade universitária de Inhumas.

** Acadêmica do 4º Ano do Curso de Pedagogia, da Universidade Estadual de Goiás, unidade universitária de Inhumas.

Referências

HORA, Dinair Leal da. Gestão Democrática na escola: Artes e ofícios da participação coletiva. 10 ed. Campinas: SP, Papirus, 2002, p. 144.

MACHADO, Lourdes Marcelino. Autonomia administrativa, financeira, poder local e políticas educacionais: uma analise a partir de artigos de Anísio Teixeira. In: MARTINS, A. M.; OLIVEIRA, C.; BUENO, M.S.B. Descentralização do Estado e municipalização do ensino: problemas e perspectivas. Rio de Janeiro. DP&A, 2004.

MADZA, Ednir. BASSI, Marcos. Bicho de sete cabeças: para entender o financiamento da educação brasileira.  São Paulo: Peirópolis. Ação Educativa, 2009, p. 15-68.

POR Dia Nascer Feliz. Direção, roteiro e edição: João Jardim.   Produção: Flávio R. Tambellini, João Jardim. Brasil. 2006/2007. 1 DVD (88 min.), color., dublado.

SANTOS, Ana Lúcia Felix dos. Gestão democrática da escola: bases epistemológicas, políticas e pedagógicas. 29 Reunião Anual  da Anped. Caxambu. 2006.




Carregadoras de Sonhos


Ficha Técnica

Título Original: Carregadoras de Sonhos
Ano de produção: 2009/2010
Gênero: Documentário
Duração: 65 min.
Direção, roteiro e montagem: Deivison Fiuza
Produção: Sindicato dos Professores de Sergipe (SINTESE)
Co-produção: WG Produções
Direção de produção: Marcos Leite
Música: Milton Goulart
Fotografia: Álvaro Rocha
Câmeras: Luiz Costa Junior e João Franco
Edição de imagem: José Miranda
Efeitos visuais e finalização: Paulo Eduardo
Sonoplastia: Demóstenes Varjão
 Assistentes: Romário Silva e Valdeliz Filho
Motorista: José de Oliveira

         Análise crítica
                                                                                                                                                                  Jorge Silva Sousa*

O Sindicato dos Professores de Sergipe (SINTESE) em seu XII Congresso Estadual dos Trabalhadores em Educação realizou uma pesquisa qualitativa com todos os profissionais presentes. Esta pesquisa teve como objetivo traçar o perfil das condições de trabalho dos professores do Estado. A partir dos resultados obtidos foi realizada a filmagem do longa-metragem, para mostrar à população de Sergipe e do Brasil as condições da Educação no estado.
O filme Carregadoras de Sonhos é um curta-metragem do diretor Deivison Fiuza, ele mistura realismo e poesia e tem como tema principal a educação. O filme mostra um dia de trabalho de quatro professoras do magistério e, além de abordar aspectos relacionados à educação, também apresenta uma análise do sistema educacional feito pelas próprias professoras.
Então o filme mostra a rotina de quatro professoras guerreiras em busca de realizações de seus sonhos que não é só delas, mas sim da sociedade, um sonho de Educação Pública de qualidade. Mas, todos os dias elas enfrentam imensas dificuldades tanto no deslocamento quanto nas condições físicas, didáticas, pedagógicas das escolas.
E sem dúvida para mudar essa realidade é necessário mais investimento do poder público, o livro “Bicho de sete cabeças: para entender o financiamento da educação brasileira”, dos autores Ednir Madza e Marcos Bassi, aborda questões relevantes sobre o assunto. Os tributos são arrecadados pelo governo federal, estadual e municipal. São usados para colocar “em prática políticas publicas nas áreas da educação, saúde, trabalho e emprego e outras que, se alcançassem a todos e todas, diminuindo a distância entre “os que têm” e “os que não têm” (p. 26). Eles são distribuídos pelas três esferas de governo (federal, estadual e municipal). Sendo estabelecido pela Constituição Federal, que a “União deve usar 18% e os estados e municípios 25%, no mínimo da receita resultado dos impostos na manutenção e no desenvolvimento do ensino” (p. 54).
O Sergipe é o menor estado do Brasil, e é o que arrecada a maior quantidade do Produto Interno Bruto (PIB) chagando até 25%.  Diante do contexto do filme e do estudo de diversos textos relacionado ao tema financiamento fico me perguntando a onde está sendo investido o dinheiro arrecadado dos tributos que é destinado a educação? Pois “metade dos alunos ainda não termina a quarta série sem saber ler e escrever; 70% das crianças de 0 e 3 anos não têm direito à creches; os espaços culturais, esportivos e de lazer são raridade” (MADZA e BASSI, 2009, p. 30-31). E como vimos no filme e na realidade falta até mesmo escola, as professoras ensinam seus alunos em espaços improvisados. Com poucos recursos didáticos, péssima infra-estrutura, falta apoio da equipe pedagógica. Como relata uma das educadoras, que quando acontece caso de estupro pouco poder fazer diante desse contexto, pois não tem com quem pedir ajuda. E com certeza, essa é a realidade dessas educadoras e de muitas outras professoras no Brasil.
Portanto, cabem a nós cidadãs questionamentos e fiscalizar o dinheiro arrecadado em forma de tributo para ver se está sendo investido em melhorias para a educação. Pelo que vimos no filme a desigualdade e mal administração dos recursos da educação ainda é grande.  
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*Acadêmico do 4º Ano do Curso de Pedagogia, da Universidade Estadual de Goiás, unidade universitária de Inhumas.

Referências

CARREGADORAS de sonhos. Direção e roteiro: Deivison Fiuza.   Produção: Sindicato dos Professores de Sergipe (SINTESE).  Sergipe. 2009/2010. 1 DVD (65 min.), color., dublado.

MADZA, Ednir. BASSI, Marcos. Origem da educação: a tributação desigual e injustiça da renda e da riqueza. In: _______Bicho de sete cabeças: para entender o financiamento da educação brasileira.  São Paulo: Peirópolis. Ação Educativa, 2009, p. 15-34.

______. A legislação relativa à educação e ao seu financiamento. In: _______Bicho de sete cabeças: para entender o financiamento da educação brasileira.  São Paulo: Peirópolis. Ação Educativa, 2009, p. 37-68.

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