30 de jan. de 2012

A delicadeza e a sofisticação no ato de ensinar dos Mestres da Equitação


A delicadeza e a sofisticação no ato de ensinar dos Mestres da Equitação


Cavalo branco-1
O que nós, pais e professores que educamos crianças e jovens, temos a aprender com os mestres da equitação Frédèric Pignon e Lorenzo?

Cavalos negros-1

Assista a reportagem “Show de adestramento sem rédeas é ponto alto de feira de cavalos alemã” e conheça as práticas de Adestramento em Liberdade desenvolvidas pelos mestres da equitação que se apresentam na Equitana (Alemanha).

Acesse a reportagem Aqui

Cavalos selvagens-1
Abaixo alguns trechos da reportagem com depoimentos dos mestres da equitação Frédèric Pignon e Lorenzo.
Reporter do globo rural


Reportagem do jornalista Nelson Araújo do Globo Rural

 

“o que encanta, o que hipnotiza os 7 mil expectadores que lotam a grande arena da Equitana é a apresentação dos mestres que fazem do exercício da equitação uma obra de arte. Eles dispensam a cela, o arreio, o cabresto (...) e o freio. É o Adestramento em Liberdade, onde cavalo e treinador entram em conexão, uma sincronia (...) do mais alto nível.”

 

O Jornalista Nelson Araújo na entrevista com Frédèric


Na conversa que tivemos no galpão de aquecimento pergunto a Frédèric onde é que ele esconde as rédeas, as linhas invisíveis com que controla os cavalos, parece mágica.

- Eu penso que essa mágica vem do elo de amizade e respeito que procuro manter com eles. Você não vê porque isso é energia. Quando faço um gesto solicitando alguma coisa e o animal responde, pode até parece mágica, mas na verdade tem muito, mais muito trabalho mesmo por trás disso.


E como você concebe o show, de onde vêm as idéias?

- Eu procuro seguir o que os cavalos gostam de fazer, é como num quebra cabeça e aí vou encaixando os números. Mas repito é tudo fruto de muito trabalho e da abordagem que faço. No adestramento em liberdade é importante que os cavalos se sintam livres para que possam expressar o que sentem.


Frédèric observa que um cavalo triste, infeliz, desconfortável, ou que esteja sentido medo, não consegue realizar essas coisas. Lembra que entre o focinho e os olhos do animal tem glândulas que exalam uns cheiros específicos quando a situação não está boa.

Treinar cavalos é como tirar alguém para dançar. Tem que haver aceitação, confiança e entrega, senão não dá certo.

 

O Jornalista Nelson Araújo na entrevista com Lorenzo


Como é o seu tipo de doma, como se diz, como você quebra os cavalos?

Eu não quebro os cavalos, o que faço é ficar com eles, sair com eles, praticamos longas caminhadas. Eles adoram! Quando vejo que estão gostando, começo a exercitar as formações.


Comentário do jornalista Nelson Araújo sobre a apresentação de Lorenzo:

Em uma outra situação eu estaria admirado com a obediência desses animais. Ele vai chamando um a um pelo nome e a resposta é pronta. Quem não é chamado fica no lugar. Mas o que vemos aqui me parece algo que está fora do manda e obedece. É uma cumplicidade, uma aliança, uma parceria.



Fonte: Globo Rural em 02 de janeiro de 2012 apud Blog Educar Sem Violência - Cida Alves - http://toleranciaecontentamento.blogspot.com/2012/01/delicadeza-e-sofisticacao-no-ato-de.html

24 de jan. de 2012

Mulher palestina diz que ficou 10 anos trancada no banheiro


Mulher palestina diz que ficou 10 anos trancada no banheiro


filha trancada no banheiroBaraa Melhem na casa de sua mãe (Foto: AP)

Por Jihan Abdalla

Uma mulher palestina de 21 anos disse a autoridades que passou os últimos 10 anos trancada em um banheiro por seu próprio pai, que só a deixava sair durante a noite para que ela limpasse a casa.

Baraa Melhem contou que seu pai dizia a ela que "as pessoas são monstros", segundo uma assistente social que está trabalhando no caso.

A polícia palestina disse nesta segunda-feira que libertou Melhem no sábado do pequeno banheiro de uma casa na cidade de Qalqilya, na Cisjordânia, após uma denúncia anônima.

O pai dela, que tem cidadania israelense, foi preso e entregue a autoridades de Israel. Ele vai prestar depoimento a um tribunal israelense na quarta-feira, de acordo com um porta-voz da polícia.

Melhem disse a uma rádio palestina que ela tinha 11 anos quando seu pai a trancou dentro do banheiro e não a deixou mais ir à escola ou ver a mãe, de quem ele é divorciado.

Ele batia nela com um pedaço de pau com arames de metal e dava apenas uma coberta para ela se aquecer, de acordo com a assistente social Hala Shreim.

"O banheiro tinha apenas um metro e meio, era como uma cela", disse Shreim.

De acordo com um comunicado da polícia palestina, o pai, citando uma "disputa familiar", admitiu ter trancado a filha e que a alimentava basicamente só com pão.

A assistente social disse que o pai de Melhem frequentemente encorajava a filha a cometer suicídio.

"Seu único consolo era um rádio que a mantinha conectada ao mundo", disse a assistente social Shreim.

A jovem agora está de volta com sua mãe.

23 de jan. de 2012

Carta de repúdio ao assassinato do professor Cleides Antônio Amorim.



Cleides Antônio Amorim, um professor da Universidade Federal do Tocantins, foi assassinado a sangue fria recentemente num bar em Tocantins. O motivo? Homofobia. 

Cleides é uma das doze pessoas que já foram assassinadas nessas primeiras semanas de 2012, simplesmente por serem lésbicas, gays, bissexuais, travestis ou transexuais. Trata-se de uma epidemia de violência que está se alastrando pelo país - e mesmo assim o Governo Brasileiro se recusa a falar sobre o assunto e lidar com esta crise urgente de lei e de ordem pública. 

Assine a carta dos professores universitários do Brasil amigos de Cleides - e ajude a exigir que o Ministro da Justiça José Cardozo priorize uma resposta federal à crise de violência homofóbica que está afetando a vida de brasileiros e brasileiras – a começar por uma robusta investigação, com a punição do covarde que matou Cleides a sangue frio. A carta será entregue a Ministro - exigindo que ele investigue estes crimes imediatamente. 

Em memória de Cleides Antonio Amorim e das vítimas da homofobia - já em 2012: Chegamos ao LIMITE. 




________________________________________________________________________________________


19 de janeiro 

Carta de repúdio ao assassinato do professor Cleides Antônio Amorim. 

Nós, professores universitários brasileiros, estamos de luto. 

Mais uma vez, a incapacidade de respeitar a diversidade e a diferença na nossa sociedade, resultou no aumento das estatísticas de crimes de ódio no Brasil. Nosso amigo e colega Cleides Antônio de Amorim, professor titular na Universidade Federal do Tocantins, foi assassinado no dia 5 de janeiro de 2012 na cidade de Tocantinópolis (TO). Ele foi vítima de um crime homofóbico brutal. 

Poderíamos vivenciar nosso luto em silêncio, reservando-nos à companhia solitária da dor e da tristeza. Mas em sã consciência, não podemos. É hora de quebrar esse pacto de silêncio do Estado brasileiro que encobre e compactua com os crimes de ódio motivados por homofobia, lesbofobia e transfobia em nosso país. 

Chegamos ao limite. 

Denunciamos o silêncio covarde das autoridades brasileiras face à crueldade dos crimes e abusos perpetrados contra cidadãos e cidadãs brasileiros, cuja expressão ou identidade sexual não estão de acordo com as normas heterossexuais dominantes. Para o professor Cleides Amorim, esta foi uma sentença de morte. No entanto, todos os brasileiros e brasileiras merecem viver sem medo num país que tem orgulho de sua diversidade e que diz promover os direitos iguais sem discriminação; todos e todas merecem o direito de se expressar livremente em todo e qualquer espaço público do Brasil. 

Exigimos que o Estado brasileiro, na pessoa do Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, tome medidas urgentes e efetivas contra a onda crescente de crimes homofóbicos. Ainda mais urgentemente, demandamos ao Ministro Cardozo que tome providências imediatas para garantir que o caso do professor Cleides seja investigado até o fim, que o responsável pelo assassinato seja julgado e punido, e que medidas contínuas sejam adotadas para prevenir a incitação ao ódio e à violência. 

Amigos e colegas de Cleides Amorim, em sua memória: BASTA.


Fonte: http://allout.org/pt/actions/chegamosaolimite/taf

20 de jan. de 2012

Bater para educar. Precisamos, urgentemente, mudar essa cultura! - Mariza Alberton


Bater para educar. Precisamos, urgentemente, mudar essa cultura! - Mariza Alberton


Zilda Arns
“Quem bate para ensinar, ensina a bater”.
Zilda Arns

Muitas pessoas tem me perguntado por que o Projeto de Lei que proíbe os castigos corporais e os tratamentos humilhantes aplicados a crianças e adolescentes apresenta tanta resistência em ser aprovado no Brasil. E eu tenho respondido que o brasileiro tem a mania de bater, que isto já está incorporado na cultura do nosso povo, desde o período da colonização pelos europeus. Existe entre nós a falsa idéia de que é preciso bater para educar.

Precisamos, urgentemente, mudar essa cultura!

Temos tido grande resistência em aprovar o PL 7672/2010 por parte de muitos parlamentares da Bancada Evangélica dentro do Congresso Nacional e por parte também de alguns setores mais conservadores de outros grupos religiosos e da nossa sociedade. Defendem seu posicionamento evocando a Bíblia, dizendo que em muitas passagens das Sagradas Escrituras há a recomendação explícita do uso da vara e dos castigos que devem ser aplicados pelos pais aos seus filhos, apontando as conseqüências maléficas em não seguir os conselhos bíblicos.

Entendemos que os tempos mudaram e que devemos ler a Bíblia à luz dos ensinamentos de Jesus Cristo. Devemos interpretar o Antigo Testamento com os olhos daquele que pregou o Amor e a Misericórdia.
Livro de Mariza Alberton



Tomo a liberdade de transcrever um pequeno trecho da obra “Violação da Infância – Crimes Abomináveis: humilham, machucam, torturam e matam!”, onde  abordo exatamente este tema no Capítulo 11  (MITOS) , página 175:


“Aquele que poupa a vara, quer mal a seu filho, mas aquele que o ama, corrige-o constantemente.” (Prov 13, 24)

Precisamos saber ouvir a Palavra de Deus. Faz parte deste exercício, adaptar os ensinamentos bíblicos para a nossa cultura e o nosso tempo.

O presente versículo foi extraído do Livro dos Provérbios que faz parte do Antigo Testamento, escrito quando o Povo de Israel tinha “o coração empedernido,” ainda vivia segundo costumes muito rígidos, e acreditava que tudo deveria ser resolvido pela lei de Talião: ”Olho por olho, dente por dente”.

Cristo veio para subverter a cultura dominante. Veio para que “todos tenham Vida e Vida em abundância” (Jo 10,10)

Devemos partir do princípio que Deus é Amor - Amor Infinito, Misericordioso, terno, doce e afável.

Está na hora de lermos a Bíblia, principalmente o Antigo Testamento, com os olhos e o coração de Jesus de Nazaré!

No livro dos Provérbios, capítulo 13, versículo 24 (Prov 13,24), onde está escrito“aquele que poupa a vara”, deve-se ler:
aquele que não orienta,
aquele que não constrói limites com seus filhos,
aquele que deixa a gurizada “solta”, sem princípios morais e éticos,
aquele que não ensina a suas crianças o respeito, a solidariedade, o amor ao próximo, o cumprimento do dever,
aquele que não dá bons exemplos,
aquele que não pauta as suas ações segundo uma cultura de Paz.

Desta forma, teremos o ensinamento bíblico atualizado, de acordo com os nossos tempos! A pessoa, segundo os padrões descritos acima, com certeza, quer mal a seu filho, é negligente, não cumpre com o dever sagrado de pai e de mãe, de educador, de orientador!

Quem ama corrige, acolhe, ensina, orienta, dialoga, educa, está vigilante, presente. E tudo isso, com persistência, paciência, com serenidade, respeito, sem violência, sem agressão!

Quando somos provocados, não devemos fugir da discussão e sim apresentar argumentos! Para isso, precisamos estar preparados.

Há muitos anos, tivemos um Seminário em Porto Alegre que teve como tema: “Quem bate para ensinar, ensina a bater” e isto ficou muito forte no imaginário das pessoas, a ponto de fazer muita gente mudar de atitude! É isso aí, pessoal! Vamos à luta!

 

Mariza Alberton

 

Mariza Alberton

Coordenadora do Movimento Estadual Contra Violência e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, membro do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, integrante da Pastoral do Menor (CNBB),é professora e especialista na Área da Violência contra Crianças e Adolescentes. Tem se dedicado à formação de conselheiros e demais atores da Rede de Proteção e Atendimento à Criança e ao Adolescente, em todo o Estado. Integra o Conselho Nacional e coordena, no Rio Grande do Sul, a Pastoral do Menor, da CNBB. Através desta pastoral, faz parte do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, tendo sido presidente na gestão 2002/2003; coordena o Movimento pelo Fim da Violência e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes/RS; e representa, no nosso Estado, o Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Tem participado, assiduamente, das Jornadas Estaduais contra a Violência e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Foi conselheira Tutelar em Porto Alegre nas duas primeiras gestões (de 1992 a 1998). Assessorou os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Congresso Nacional que tratou de Situações de Violência e Redes de Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes no Brasil (2003-2004). É Co-autora em várias publicações e autora do livro "Violação da Infância - Crimes Abomináveis: humilham, machucam, torturam e matam!". Em 2005 a carioca Mariza Alberton recebeu o título de Cidadã Honorífica de Porto Alegre, em reconhecimento aos relevantes trabalhos na área da infância.


17 de jan. de 2012




Professor da UFT é assassinado, vítima de homofobia no Tocantins

Professor assassinado TO

O professor Cleides Antônio Amorim, 42 anos, foi brutalmente assassinado na última quinta-feira (5). De acordo com informações da Polícia Civil, divulgadas pela imprensa local, o docente estava em um bar em Tocantinópolis com mais dois amigos, onde foi verbalmente agredido com insultos homofóbicos por um homem identificado como Gilberto Afonso de Sousa. Segundo testemunhas, os dois discutiram e Sousa esfaqueou o professor. O autor do crime ainda está foragido.

Cleides Antônio Amorim era coordenador do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Tocantins e ministrava aulas nas disciplinas de Antropologia, Introdução à Metodologia da Pesquisa em Ciências Sociais e Sociologia da Educação. Graduado pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Amorim era mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atuava em pesquisas sobre tambor de mina, medicina popular, educação e relações étnicas.

Dados do Giama (Grupo Ipê Amarelo de Conscientização e Luta pela Livre Orientação Sexual) constatam que desde 2002 o Estado do Tocantins computou 25 crimes com características de homofobia. Várias entidades manifestaram repúdio à morte do docente e cobraram punição exemplar ao crime. A Seção Sindical dos Docentes da UFT publicou nota de repúdio nas redes socias. Confira o link abaixo:


Fonte: site da Adulf – Sindicato dos docentes das universidades federais de Goiás

Fonte: Blog Educar Sem Violência - Cida Alves- http://toleranciaecontentamento.blogspot.com/ 

Faz mal uma palmadinha? José Ribamar Bessa Freire


Faz mal uma palmadinha? José Ribamar Bessa Freire


Pais e filhos indios 1
No apagar das luzes de 2011, a Câmara dos Deputados aprovou a Lei da Palmada, que proíbe os pais ou responsáveis de aplicarem castigos físicos nos filhos, o que vai alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O assunto, muito polêmico, tomou conta da mídia e das redes sociais. Discutiu-se a interferência do Estado no espaço familiar. Na ocasião, pensei até em dar também os meus pitacos sobre o uso de castigos corporais no processo educativo, mas decidi esperar que a poeira baixasse.

A poeira está baixando. A mãe desse locutor que vos fala usou, na educação dos seus treze filhos, a surra, o que não constitui um exemplo a seguir, embora não tenha deixado - creio - sequelas e traumas. Um amigo meu, americano, economista, ficou horrorizado quando eu lhe contei que, por ser danado e briguento, peguei muita porrada em casa. Depois que conheceu minha mãe, ele filosofou, generalizando talvez apressadamente:

- Mãe brasileira pode dar palmada, porque esse não é o único contacto físico que tem com os filhos, ela dá também carinho, o que não é o caso da mãe americana”.

Acho que podia ser interessante a gente se perguntar de onde surgiu essa ideia de que é recomendável a punição física contra as crianças para ensinar e para corrigir a desobediência e o mau comportamento. Não veio dos índios e dos africanos, mas dos europeus, que professavam a “paudagogia” como mostra a documentação histórica produzida pelos primeiros jesuítas, para quem era impossível educar, sem punir severamente o erro. Isso gerou conflito entre os índios que pensavam diferentemente.

Pais e filhos indios 2
Os índios jamais castigavam, eram contra a porrada e construíram um discurso sobre isso. No século XVI, o princípio pedagógico indígena mais criticado foi justamente aquele detectado pelo jesuíta, Fernão Cardim, quando ele, surpreso, constatou que “os índios amam os filhos extraordinariamente”, mas lamentou porque “nenhum gênero de castigo têm para os filhos, nem há pai nem mãe que em toda a vida castigue nem toque em filho”.

Outros cronistas confirmaram comportamento similar em diferentes aldeias Tupinambá do litoral, como ocorreu com Pero de Magalhães Gandavo, provedor da Fazenda na Bahia, em 1565, para quem os índios “criam seus filhos viciosamente, sem nenhuma maneira de castigo”.

Esse tipo de relação, na qual as crianças são socializadas sem repressão, é observável ainda hoje, no século XXI, nas seis aldeias Guarani do Rio de Janeiro, localizadas em Angra dos Reis, Parati e Niterói, com as quais tenho contato há mais de vinte anos. Nos cursos que ministro para formação de professores bilíngues, vejo as mães indígenas cochichando com seus filhos, tratando tudo na conversa. O comportamento atual dos Guarani pode ser resumido no depoimento de uma jovem guarani mbyá, mãe de três filhos: “Mbyá puro não bate na criança. Nunca. Não precisa bater nem brigar, só falar” .

Pais e filhos indios 4
No entanto, a pedagogia européia da época, acostumada com o uso da palmatória e com outras formas de violência física, considerou a ausência de castigo como uma “omissão”’, um “atraso”, um “vício”, porque não corrigia o erro e, por isso, obstruía o processo de aprendizagem. Aos olhos do colonizador, tratava-se de negligência e falta de princípios pedagógicos, e não do resultado de uma reflexão coletiva sobre a natureza do processo de aprendizagem.

Durante todo o período colonial, os índios foram submetidos a um choque cultural, produzido pelo embate entre práticas econcepções pedagógicas bastante diferenciadas. De um lado, os princípios de uma sociedade, cuja educação não dependia da escola, da escrita e de castigos físicos. De outro, as normas e regras de uma sociedade letrada, dependente da escola e da palmatória que – acreditava-se – corrigia erros e, portanto, educava. Esse choque ocorreu em diferentes regiões do país, com consequências trágicas para os índios e suas culturas.

Um missionário jesuíta, João Daniel, testemunhou no século XVIII a resistência das índias do Pará, que teimavam em usar, de forma exclusiva, sua língua materna, recusando-se a migrar para qualquer outra língua. O padre, responsável pela escola, mandou dar-lhes “palmatoadas”, para que mudassem de comportamento, mas elas “antes se deixavam dar até lhes inchar as mãos e arrebentar o sangue”.

Gandavo registrou que quando as crianças eram punidas na escola, os pais ficavam irritados, “se melindravam e ressentiam”. Por isso, o índice de evasão escolar era altíssimo, conforme observou um superior jesuíta do século XVI, Luiz da Grã, para quem os castigos esvaziavam as escolas, pois “só o ver dar uma palmatoada a um dos mamelucos basta para fugirem”.

Desde os primeiros momentos, e ao longo de todo o período colonial, a documentação registra fugas constantes e frequentes de índios, que eram aprisionados, amarrados e forçados a voltar para a escola, como sinaliza a carta de Pero Correia, de 1554: “Y quando alguno es perezoso y no quiere venir a la escuela, el hermano lo manda buscar por los otros, los quales lo traen preso…”.
Pais e filhos indios 3
Nos dias atuais, a proposta dos índios contra castigos físicos aplicados às crianças é vista com simpatia, e parece ser universalmente aceita por todas as correntes de pensamento dentro da pedagogia. Mas ninguém procurou os índios para reconhecer que eles estavam mais avançados e dizer-lhes:

- Desculpem-nos, no século XVI, quem tinha razão eram vocês e não nós.

Se ninguém pediu desculpas, então peço eu. Agora.
 
José Ribamar


O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO). Escreve no Taqui pra ti.

Fonte: Blog do Amazonas - Altino Machado
Colaboração: Eleonora Ramos, jornalista e coordenadora do Projeto Proteger – Salvador (BA)

Fonte: Blog Educar Sem Violência - Cida Alves- http://toleranciaecontentamento.blogspot.com/

10 de jan. de 2012

“Palmada educa?” entrevista com a psicóloga Suely Pereira de Faria


“Palmada educa?” entrevista com a psicóloga Suely Pereira de Faria


Manual da Mãe Foto



Um tapinha, um beliscão. “Que mal podem fazer?”, perguntam-se os pais. A questão é polêmica e provoca discussões fervorosas com fortes opiniões a favor e contra. Mas para a psicanalista Dra. Suely Pereira de Faria há uma única resposta: “Não, palmada não educa.” Ela explica que castigo físico provoca humilhação e faz nascer na criança o sentimento de não ser capaz ou a culpa por estar fazendo algo errado. “A verdade é que a palmada tira a autoridade da palavra”, ressalta.

O princípio básico apontado para educar é única e exclusivamente o diálogo diz a Dra. Suely. “Seja claro, mostre o porquê, converse e explique. A educação é uma repetição. A criança não aprende na primeira vez e o tapa, a palmada, só vai estancar uma ação que provavelmente irá se repetir.”

Assim, estabelecer rotinas familiares também é um passo importante na educação dos filhos. A psicanalista explica que reservar um momento do dia para conversar com a criança, contar histórias e conviver com ela substitui a agressão da palmada.“Por comodismo, os pais acabam colocando os filhos em frente à televisão, agindo de uma forma que prejudica a relação humana entre pais e filhos, levando a criança a viver constantemente num mundo de fantasia”observa.

A maioria dos pais de hoje levou palmadas quando criança e, assim, argumenta que nem por isso se tornaram adultos “revoltados”. Dessa forma, não vêem sentido em não fazer o mesmo com os filhos. Mas, para psicanalista Dra. Suely, isso não deixou de ter conseqüências para o adulto, uma vez que ele recorre às palmadas como uma punição para o filho, esquecendo-se que o mundo evoluiu em todos os sentidos, principalmente na forma de educar, que é a base da sociedade. “As crianças hoje são convidadas a participarem da vida do adulto cada vez mais cedo e parece haver o desejo dos pais de que elas se distanciem de sua condição infantil, espontânea de exploração e descoberta do mundo, utilizando do castigo físico como limitador da ação”, relata a especialista.

Dra. Suely Pereira de Faria (CRP 09/1223)

Psicanalista, especialista em Psicologia Clínica e Técnicas Projetivas de Avaliação de Personalidade e Mestre em Ciências da Religião.

(62) 9979-8808 / psifaria@hotmail.com

Manual da Mãe Capa




Fonte: Manual da Mamães – Crianças e Adolescentes, publicação da Central de Ideias Comunicação (Goiânia/Goiás)

6 de jan. de 2012

"Sonhe, ainda que o sonho pareça impossível.
 Lute, ainda que o inimigo pareça invencível. 
Corra por onde o corajoso não ousa ir. 
Transforme o mal em bem, ainda que seja necessário caminhar mil milhas.
 Ame o puro e o inocente, ainda que sejam inexistentes. 
Resista, ainda que o corpo não resista mais.
 E ao final, alcance aquela estrela, ainda que pareça inalcançável."
(Daisaku Ikeda apud Blog )



3 de jan. de 2012

Casal espanhol diz que filho negro foi expulso de restaurante em SP


Casal espanhol diz que filho negro foi 




expulso de restaurante em SP




Garoto foi adotado há dois anos na Etiópia e, segundo família, está abalado.
Defesa do estabelecimento diz que criança foi confundida com menino de rua.

O que era para ser uma viagem de férias no Brasil terminou em tristeza para a espanhola Cristina, de 42 anos. A mulher, que não quis ter o sobrenome revelado, veio ao país com o marido Jordi, também espanhol, e o filho de 6 anos, adotado há dois na Etiópia. Na sexta-feira (30), Cristina procurou a polícia alegando que seu filho, que é negro, foi expulso do restaurante Nonno Paolo, no bairro Paraíso, Zona Sul de São Paulo. O advogado do estabelecimento nega e diz que o menino saiu espontaneamente após ser abordado pelo proprietário.
O dono do restaurante confundiu a criança com um menino de rua, segundo seu defensor, José Eduardo da Cruz. O garoto, que não fala português, foi encontrado pela família a um quarteirão de distância do local.
"Foi um desespero, a primeira coisa que eu pensei foi que alguém havia levado ele embora [o menino] e que não iríamos vê-lo nunca mais", disse a mãe, técnica de administração acadêmica na Universidade de Barcelona. A família havia ido ao Parque Ibirapuera na manhã da sexta (30) e decidiu comer no restaurante à tarde. Funcionários viram que o garoto entrou com os pais e o trataram como cliente num primeiro momento, relatou Cristina.
A família, que chegou ao Brasil em 17 de dezembro, disse estar muito abalada. A tia que hospeda o casal, Aurora, afirmou que o garoto evita falar sobre o caso e que estava chorando quando foi encontrado pelos pais. "Ela [Cristina] chegou aqui chorando, com o marido. Eu voltei [ao restaurante] com ela para saber o que houve e um funcionário admitiu que havia colocado o menino para fora."
O casal espanhol fez um boletim de ocorrência no 36º Distrito Policial, na Vila Mariana, ainda na sexta (30). O caso foi registrado como constrangimento ilegal, mas a polícia investiga a hipótese de racismo. A mãe já foi ouvida pelos policiais.
O advogado do Nonno Paolo reconhece que o dono do estabelecimento abordou a criança, mas nega que tenha havido racismo. "Ele [o dono] se dirigiu ao garoto e ele não respondeu. Ele imaginou que fosse mais um dos meninos de rua da feira, e a criança saiu do local espontaneamente. Em hipótese alguma houve racismo", disse.
Funcionários do restaurante ouvidos pelo G1 confirmam que o dono do local colocou o garoto para fora do estabelecimento.
"Ele me disse 'um senhor me botou para fora', em catalão, que é a nossa língua. Perguntamos se ele estava ferido e ele disse que foi segurado pelo braço, mas não foi machucado", contou a mãe. O gerente do restaurante, porém, garante que houve um desencontro entre o menino e seus pais. “O menino saiu procurando os pais dele. Mas ele foi para o lado errado. Os pais estavam de um lado e ele foi para outro”, disse José Eduardo Fernandes Neto.
A família volta nesta segunda (2) para a Espanha, mas vai acompanhar o caso e estuda entrar na Justiça caso a investigação não prossiga.