Educar é ... dar amor e limites que servem para a vida toda! - Naiana Dapieve Patias
“Meu pai sempre dizia: não levante a sua voz, melhore os seus argumentos.”
Desmond Tutu – Prêmio Nobel da Paz
Naiana Dapieve Patias*
A tarefa de educar os filhos tem sido muito discutida, principalmente após o projeto de Lei 7672/2010, mais conhecido como a “Lei da Palmada”. É certo que educar não é tarefa fácil e que muitos pais utilizam a palmada dita como educativa na educação dos filhos. Bem, há muito tempo e em muitas culturas tem-se ainda utilizado a “palmada” como maneira de reprimir os filhos por algum comportamento inadequado. No entanto, estudiosos da área da psicologia e educação perceberam, através de inúmeros estudos no decorrer dos anos, que essa forma de educar pode até ser eficaz para que o comportamento inadequado da criança seja interrompido, mas no momento em que o cuidador dá a “palmada”. Isso quer dizer que a criança pode repetir o mesmo comportamento quando os pais não estão com ela, porque ela não entendeu o motivo de não poder se comportar de tal forma, mas aprendeu que se o fizer, vai ser punida. Além disso, a palmada acaba ensinando que bater é uma forma de resolver problemas e é permitido fazer isso. Aí as crianças podem bater no coleguinha da escola, e até mesmo dar um tapa nos pais. Sim, porque as crianças imitam o que os adultos fazem principalmente os adultos que lhes são importantes, como seu cuidadores.
Bem, mas voltando à “Lei da palmada”, essa tem o intuito de trazer à tona a discussão de que, além da palmada não ser educativa, ela pode trazer consequências para o desenvolvimento da criança. Sim, uma “simples” palmadinha, por mais que os pais tenham a intenção de educar, pode machucar a criança. Falo aqui de machucar, não só no sentido de doer fisicamente, mas também emocionalmente. “Aqueles que me amam, também me machucam”. Além do mais, a palmadinha de hoje, pode amanhã ser “mais pesada” quando, por exemplo, a mãe, pai ou outro cuidador chega em casa cansado, sem paciência ou estressado do trabalho. A mão será mais “pesada” e vai doer mais. E outra: os pais e outros cuidadores têm-nos dado indícios de que dão a palmada quando perdem o controle e a paciência.
Certa vez, quando estava palestrando em uma escola para alguns pais que aceitam a palmada como forma de educar, uma mãe me disse: “ah, eu dou uma palmada de vez em quando porque eu perco a paciência!”. Dessa forma, estudos têm indicado que os pais batem nos seus filhos por inúmeros motivos (não conhecem outra forma de educar; foram educados dessa maneira e acreditam que essa é a forma mais correta; não possuem tempo para ficar dialogando com a criança e acreditam que dar palmada cessa o comportamento e faz efeito; e porque “perdem” a paciência e o controle). Pensamos: somos seres humanos e perdemos o controle, nos angustiamos, nos estressamos, nos cansamos. E vamos combinar: tem que ter paciência para sentar e explicar à criança que aquilo que ela fez não pode, é errado “por isso e por aquilo”.Mas educar é isso! É explicar, explicar... e explicar, e sentar e dizer novamente. É dizer “não”. É dar limites. È saber quando fazer isso. É também dar carinho. É conversar. É ouvir a criança, seu ponto de vista....
EDUCAR DÁ MUITO TRABALHO! E TEM QUE TER PACIÊNCIA! Isso não quer dizer que a gente não pode errar, pelo contrário, já diz o ditado “é errando que se aprende” e a criança vai testar seus pais... E vai aprender o que pode e o que não pode através da observação do comportamento de seus pais, seus cuidadores e pessoas com quem convive. Por isso, os adultos que convivem com as crianças devem ter muito cuidado com o que dizem e fazem. Não adianta falar para a criança não gritar, gritando! Além disso, dizer para não mentir, mas ao tocar o telefone a mãe fala para o pai: “atende o telefone e se for pra mim, diz que não estou”. A criança pode pensar: como assim? Não é para mentir, mas a mãe está mentindo? A criança então precisa de uma base, e que essa base seja sustentada pelo comportamento dos pais.Aqui vale aquela ressalva: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.” A criança ainda não sabe diferenciar. Por isso na tarefa de educar, isso também vale. Os cuidadores devem prestar atenção na forma como se comportam, se isso não contradiz com o que fala pela criança. Além do mais, é importante que todos os cuidadores conversem entre si e possuam metas claras e objetivas. O pai diz que sim e a mãe diz que não. Como a criança fica? É sim ou não? O que ela faz? Ela não sabe o que fazer quando um diz uma coisa e outro diz outra coisa.
Bem, sabemos que não há receita de bolo para educar os filhos. Mas algumas dicas são sempre preciosas, como: saber escutar os filhos; ter paciência; preferir a conversa, o diálogo; explicar o porquê das coisas (o porquê sim e o porquê não); respirar e tentar se acalmar quando perceber que pode perder o controle e bater no filho. Claro, o pai, a mãe, a avó, o avô, o tio, a tia, também são humanos e podem perder a paciência, magoarem-se. É importante que os adultos sejam sinceros com a criança e demonstrem seus sentimentos: “não gostei do que você fez por isso e aquilo”; “agora estou chateado, conversamos depois” – os pais podem fazer isso, assim como a criança. Às vezes então, é melhor deixar a conversa para depois, quando “a poeira baixar”. A criança vai entender e assim os canais de comunicação ficam abertos. Além disso, o ideal é que os pais também possam elogiar a criança, dizendo que a forma como ele (a) se comportou foi legal. Recompensar a criança com um elogio faz muito bem para a autoestima da criança! Além de fazer bem para o relacionamento entre pais e filhos. Quem não gosta de ser elogiado?
Claro que cada criança reage de uma forma e o adulto também. Cada um possui suas especificidades. Educar é assim mesmo: é ir testando qual a melhor forma de dar limites, de dizer não, de explicar... De agradá-la. Por fim, quero deixar claro: a criança precisa de carinho, amor e limites! A forma como os pais fazem isso é um acordo entre eles e outros cuidadores. O importante é ter metas claras e consistentes entre os cuidadores e respeitar os limites da criança, sua idade, seu desenvolvimento.Também não vai adiantar dar mil explicações para uma criança de dois anos. Os pais podem apenas dizer: “você não pode fazer isso, por isso” e ponto. O ideal é ser claro, consistente e não bater nas crianças. Bater nas crianças só vai gerar um ambiente de medo, hostilidade e sofrimento, tanto para os pais, quanto para os filhos. O que se ensina hoje para a criança, ela vai levar para a vida toda. Por isso: “Valores que amanhecem, valores que permanecem”. Que valores os pais desejam passar para os seus filhos?
Se você quiser saber dicas de educação e sobre o desenvolvimento da criança, vale a pena acessar o site: www.redenaobataeduque.org.br. Lá você também vai saber por que o Projeto de lei da palmada é importante.
*Naiana Dapieve Patias é Psicóloga, Mestre em Psicologia (UFSM) e Doutoranda em Psicologia no Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Texto publicado na Revista Escola de Pais, Rio Verde, Goiás.
Fonte: Blog Educar Sem Violência. Cida Alves. 2012.
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