4 de mai. de 2014

conheci a experiência da solidão


Quando eu não tinha o olhar lacrimoso
Que hoje eu trago e tenho...
Quando eu ganhava esse mundo de meu Deus
Fazendo eu mesmo o meu caminho
Por entre as fileiras do milho verde que ondeiam
Com saudades do verde marinho
Eu era alegre como um rio
 
Um bicho, um bando de pardais...".
Belchior

Sem bater na porta e pedir licença “veio o tempo negro e a força fez comigo o mal que a força sempre faz”. Por medo dos riscos que a mocidade implica nos meninos e meninas*, usurparam de meu espírito a alegria de rio e do meu corpo a liberdade de correrias e quintais. Fui aquartelada em nome de uma ordem arbitrária: jamais ficar na casa dos outros ou de brincar na rua com a molecada da vizinhança ou da escola. Nesse momento conheci a experiência da solidão.

Solidão construída por cuidados e temores maternos. Temores que sempre assombram mães de meninos e meninas. Pobres mãezinhas, porque será que o mundo impôs a elas a sisifica missão de conter água nas mãos, de tentar aprisionar o que não se encarcera por ser de natureza líquida? A água sempre buscará brechas, fendas para cumprir a sua sina de escorrer.

* Acrescentado por Jorge Sousa

Fragmento tirado do texto Cartografia de uma paixão minúscula – Cida Alves. Disponível em: http://toleranciaecontentamento.blogspot.com.br/. Acesso em: 04 maio 2014.

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