11 de set. de 2013

COMPORTAMENTO: Chega de grito

Confira a entrevista exclusiva com o psicólogo espanhol Guillermo Ballenato, autor do livro "Educar Sin Gritar",

Redação Crescer

Daniela Toviansky
Não bato, mas grito. Para o psicólogo espanhol Guillermo Ballenato, autor do livro Educar Sin Gritar(Educar Sem Gritar, ainda sem previsão de lançamento aqui no Brasil), a reação dos pais focada em gritos virou uma forma de os pais se comunicarem com os filhos, e isso apenas danifica a autoestima da criança. Leia abaixo a entrevista exclusiva para CRESCER:
CRESCER: Quais são os valores básicos da educação?
Guilhermo Ballenato: Em uma sociedade tão complexa e competitiva, a educação com base nos valores tem um papel essencial, porque são os pilares que permitem que o ser humano viva em sociedade. Os três considerados por mim fundamentais são justiça, respeito e solidariedade. Esses três fazem com que o desenvolvimento da criança seja mais equilibrado, dá mais confiança para elas e legitima a autoridade dos pais e educadores. Outro ponto importante é o diálogo com a criança com base na escuta e na sinceridade. Uma relação afetiva garante segurança, permite a troca emocional e enriquece.
C.: E como os pais podem demonstrar autoridade?
G.B.: A autoridade deve ser reconhecida baseada no exemplo, no diálogo e no reconhecimento, não no castigo ou nas críticas. Por isso que eu digo que a tarefa de educar é um desafio estimulante que ainda está para ser descoberto por muitas pessoas, especialmente os pais, educadores.
C.: Você acredita que o grito virou a nova surra? Por que isso é um problema?
G.B.: Os gritos tornaram-se, infelizmente, uma forma bastante comum de “educar” as crianças. É um sintoma de insatisfação consigo mesmo e o reflexo de uma sociedade. Por isso, é tão urgente rever as nossas prioridades, sejam elas o trabalho, bens materiais, família... Contribuir para uma sociedade melhor, mais justa, mais solidária deve ser a missão de uma vida inteira e a educação é a maneira ideal de fazer isso. Quem não tem tempo para gastar com seus filhos enquanto eles são jovens deve saber que os anos não vão voltar e não podemos recuperá-los. Os gritos são um mau exemplo e a conduta de vida do adulto educa tanto ou mais que a palavra. Alguns pais usam o grito como uma rotina para se comunicar com as crianças. Isso é um tipo de abuso que tem consequências.
C.: Como o que, por exemplo?
G.B.: Os pais gritam por falta de paciência, pela sensação de impotência, pelo medo de perder a autoridade, porque eles sentem a distância psicológica apesar da proximidade física com a criança. Só que os gritos fazem com que percamos a autoridade. Se tivermos a razão, perdemos pela má educação. É um tipo de abuso que não deixa vestígios físicos visíveis. No entanto, danifica a autoestima da criança. E muitos pais acabam se sentindo culpados. Devemos acreditar que é possível educar sem gritos. Para fazer isso, temos de desenvolver nosso autocontrole. Não podemos ensinar as crianças a controlar suas emoções, se nós próprios não somos capazes disso.
Daniela Toviansky
C.: Os pais se sentem culpados por não passarem o dia todo com os filhos por conta do trabalho. No entanto, também estão mais cansados e explodem com mais facilidade. Como administrar tudo isso?
G.B.: Vivemos em uma sociedade com muitos pais exaustos e crianças que se sentem sozinhas. Para amenizar essa situação, é necessário criar algumas estratégias para não acabar gritando com as crianças nos momentos mais tensos do dia. E devem ser adaptadas caso a caso. Volto a dizer que, para algumas famílias, talvez a saída seja melhorar a comunicação para prevenir e resolver conflitos. E isso requer paciência e exige coerência no que se diz às crianças. Os pais devem mostrar autocontrole, exercitar a paciência, aprender a contar até dez antes de falar, ouvir sem interromper, evitar dar sermões... Parece, mas não é complicado. E os efeitos são tão benéficos que vale a pena colocá-los em prática. Outro ponto que conta muito é o nível de satisfação pessoal dos pais. Pais mais felizes tendem a transmitir esse bem estar nas relações com os filhos.
C.: Como agir para garantir uma educação de sucesso?
G.B.: Devemos usar a empatia, senso comum e o diálogo. Buscar a razão e explicar, mas também ouvir e ser flexível. Essa história de que rotina estraga é mentira. Criança precisa de regras, elas são necessárias para a convivência e devem ser estabelecidas desde o início e fazê-las respeitar. Muitas crianças estão pedindo para ter regras claras. A falta de normas gera confusão e insegurança nas crianças. No futuro, eles vão viver em uma sociedade que exige o cumprimento das leis e precisam se acostumar! O mais importante é que devem ter sentido e devem ser proporcionais, não definidas de forma arbitrária. A flexibilidade na exigência do cumprimento deve ser gradual. Inicialmente, é melhor ser rigoroso, coerente e consistente.
Fonte: Revista Crescer. COMPORTAMENTO: Chega de grito. 2013. Disponível em: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI119337-15151,00.html. Acesso em: 11 set. 2013.

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