8 de set. de 2013

Já para o castigo!

A palavra impressiona, porém nem sempre é sinônimo de dor física. Repreender o filho por causa de uma desobediência dá limite


Patricia Cerqueira

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Castigo resolve? Há uma polêmica, mas as mães garantem que sim, embora muitas evitem usar esse termo. De fato, a palavra assusta mais do que a medida. Muitos especialistas preferem falar em sanção, impedimento, conseqüência, responsabilização. Relutam em usar "castigo" porque, dizem, ele traz à mente a imagem de punições físicas - como a palmatória usada para disciplinar alunos e filhos no passado. 

Aqui não se está falando depalmada, beliscão, tapa, sova, xingamento - isso tudo está realmente fora de cogitação. E, sim, daquele castigo definido pelo Dicionário Houaiss: pena ou punição que se inflige à pessoa..., observação sobre um erro ou uma falta; repreensão, admoestação. Ou seja, o clássico ficar sem TV quando a filha foi além do limite. "Mando o Davi para o quarto quando não obedece. Ele vai e se toca de que fez algo nada legal. Volta. Pede desculpas e diz que me ama", conta a atriz Érika, mãe de Davi, de 4 anos e 9 meses. Pode soar horrível, mas punir, nesse sentido, é educar. "Com a intervenção dos pais, a criança aprende a se socializar. Começa a ter noções de moral e ética", afirma a filósofa e mestre em educação Tania Zagury, autora de 12 livros sobre educação de criança, entre eles Limites sem Trauma. Tania evita a palavra castigo. Segundo ela, a criança não consegue perceber que esse foi o último recurso dos pais, que ela já teve a chance de obedecer, mas como não conseguiu, essa é a conseqüência para sua atitude. 

Falar antes de agir 

Castigar é deixar o filho sem algo que ele realmente aprecie, com a intenção de que, sentindo falta, não repita a travessura. O objetivo é mostrar que seu comportamento foi errado e não deve repeti-lo. "Nesse sentido, o castigo de fato dá certo, faz a criança parar, mas não impede que ela repita depois", avisa Neide Noffs, psicopedagoga e professora da Faculdade de Educação da PUC-SP. Ou seja, traz o efeito desejado pelos pais. Alguns educadores, porém, acreditam que ele não traz benefícios no futuro. Para eles, os pais precisam respeitar a criança e, para ensiná-la, não precisam punir. "A punição elimina o comportamento indesejado, mas a longo prazo não educa, não ensina", explica Maria Guimarães Drummond Grupi, psicóloga e pedagoga. Favorável em impor limite com diálogo firme, ela diz que a punição só refreia o comportamento. Não vai além disso. 

Difícil mesmo é os pais não ficarem extenuados. Fala-se uma, duas, três, quinze vezes e o filho continua repetindo o comportamento. Só que nem sempre a criança volta à ação condenada para desafiar os adultos. "Principalmente as pequenas: elas fazem porque não tem logicidade, ou seja não, entendem causa e efeito de forma clara. E, como vivem num mundo egocêntrico, em que tudo funciona para elas e por causa delas, agem por instinto, sem pensar no outro", explica Neide. Às vezes, elas também repetem o comportamento porque são curiosas, estão pesquisando o mundo. Mostrar o erro não garante aprendizado na hora. "E essa incapacidade da criança pequena não é falha da educação", acalma Neide. Faz parte do processo de aprendizado dela sobre o mundo. Só não se pode achar que está tudo bem. Em qualquer faixa etária, a criança precisa aprender que há comportamentos que são aceitos e outros não. Que há coisas que ela pode fazer e outras não. O resultado leva tempo. Os pequenos não nascem sabendo como se controlar. Por isso, a autoridade tem de vir de fora, dos pais. 

Quando começar? 

As medidas, sanções e afins costumam surgir depois que os pais explicaram, conversaram, gastaram o léxico. Disseram 'não faça isso', 'pára', uma, duas, três vezes. Colocar para pensar, perder algo de que gosta muito, ser retirada do ambiente costumam ser as medidas preferidas pelos adultos. Só que para cada idade deve-se adotar uma estratégia. A partir dos 2 anos, quando a criança aprende a falar 'eu' e a notar o amigo, em geral, aparecem as mordidas, as agressões. "Nesses momentos, ela deve ser fisicamente contida e avisada de que o que fez não foi legal", explica a educadora e psicóloga Maria Cristina Meirelles Cruz. Isso também é uma sanção. O que não dá é colocar uma criança de 1 ou 2 anos para pensar. Ela ainda não consegue perceber que sua atitude não foi adequada. Mesmo as de 3 ou 4 anos se assustam mais do que "pensam" quando ficam sozinhas, mesmo que seja por três minutos, de porta aberta e junto aos brinquedos. Por isso, pode ser mais eficiente retirar algo de que elas gostem. Mas a partir dos 7 ou 8 anos, a criança começa a perceber com mais eficiência que pode perder coisas legais porque não agiu adequadamente. E o mais importante: para que o castigo seja educativo, a criança precisa entender a relação entre o que fez e a conseqüência desagradável que tem de enfrentar por causa disso. Cada família, porém, conhece o próprio filho e escolhe o momento e o método mais eficiente dependendo do perfil da criança. Não adianta cortar passeios daquela que não se importa em sair de casa, por exemplo. 

Gelo de mãe 

Na opinião de Maria Grupi, a mãe dar uma "gelada" no filho mesmo pequeno é uma punição eficiente. "Demonstrar, com voz firme, que não gostou da atitude dele dá muito certo", garante ela. Os pais não devem demonstrar que estão transtornados e muito menos se sentir ameaçados pelo filho. É preciso ter claro que quem está no comando são vocês. Perder a atenção da mãe já é um grande castigo, seja o filho pequeno ou grande. As sanções, ensinam os educadores, devem ser imediatas ao erro, de curta duração , e é preciso explicar a razão. "Só cuidado com a verborragia, muito comum em tempo da cultura de não bater", avisa Maria Cristina. A atenção da criança é curta. Se você alongar as explicações, ela "perde contato com a torre rápido". Além disso, é importante distinguir as situações que merecem punições mais contundentes. Nem toda desobediência é motivo para pensar no quarto. Mas toda insubordinação merece um chamado de atenção. "Vejo o castigo como uma forma eficiente de dar limite, desde que não seja sempre", diz a psicóloga Beatriz. Ela começou a impor sanções quando Luiza não atendia aos pedidos da mãe, desafiando-a. E esse desafio ainda a colocava em risco. Pondere a situação para não agir num dia em que você está sem paciência porque depois bate a culpa. A cardiologista Fernanda assume: "Dói o coração ouvir o choro da Giuliana no quarto". Se percebeu que errou na mão, vale pedir desculpas ao filho e até dizer que ele não merecia ficar de castigo, se for o caso. 

Educar não é mesmo tarefa fácil. Filho desafiar as regras está dentro da normalidade. Anormal seria se a criança aceitasse passivamente o primeiro não dos pais ou nunca obedecesse. Se esse não é o seu caso, saiba que nada será para sempre. Essa é só mais uma fase dentro do complexo e apaixonante desenvolvimento infantil. 

Punição na escola 

Não é só em casa que as crianças sofrem punições. Na escola, também podem perder algo quando desrespeitam as regras do grupo. Podem ficar fora da roda de uma discussão, sair da classe, perderem o horário do lanche. Depende do perfil de cada escola. Até as chamadas democráticas fazem os combinados que todos têm de cumprir. "Na escola onde trabalho, quando as crianças estão fora de si, recorremos às sanções. Além disso, fazemos massagem, para tentar trazê-las de volta ao eixo", diz Maria Cristina Meirelles Cruz. A desobediência costuma aparecer cedo na vida das crianças. Até por volta dos 3 anos, elas não têm noção do que seja regra e infração. Por isso, vivem cometendo várias delas. Em casa e na escola. Conversando e sendo punidas, quando for o caso, vão entendendo as normas de convivência da sociedade. 

Fonte: Revista crescer. Já para o castigo. 2013. Disponível em: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/1,,EMI115502-15546,00.htmL. Acesso em: 08 set. 2013

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